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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Aquilo que todo mundo sente.



ou o que eu sei sobre a dor.

                 Ninguém sabe lidar com a dor. Aperta o peito, dificulta a respiração. Da vontade de fechar os olhos e não abrir mais. Da vontade de chutar o pau da barraca, mandar todo mundo à merda,porque está doendo em você. E doí demais para suportar sozinha,por isso a gente precisa desabar nossa tristeza em cima de alguém. Precisamos descarregar,desabafar, transferir para outra pessoa aquilo que estamos sentindo. E vale melhor amigo,vale namorado,vale qualquer coisa disposta a se arriscar. Nós só precisamos que tenha alguém,porque alguém nos da esperança de que, se dividir, a dor vai diminuir. Não,não vai. Sinto muito, mas não vai. Nada vai amenizar a dor de perder alguém querido,porque esse é o tipo de dor feita para não passar mesmo. É feita para sofrer,para relembrar aquele que teve que ir ou que não pode mais ficar. E doí muito no dia de hoje. E doerá a mesma coisa amanhã. Porque o tempo não apaga nada,só aumenta. Aumenta o vazio. Aumenta a saudade, a solidão, o desespero, o silêncio. Aumenta a dor. E o tempo passa e as coisas aumentam de tamanho. Inclusive a força de vontade. Aquela coisinha invisível que existe em nós e só aparece depois de um certo tempo,quando mais precisamos dela. Nós ficamos mais fortes,mais resistentes. Praticamente blindados,por dentro, contra a dor, a solidão e a saudade. E a gente aprende a conviver com a perda, com o espaço vazio na mesa na hora da janta, com o silêncio, com a angústia de esquecer os rostos, com as lembranças, com a morte. Mas, não quer dizer que não continue doendo. Porque continua,sempre.

xx

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

(Re)Começo.

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              Terminei de dobrar a última peça de roupa e coloque-a dentro da mala, onde já estavam os meus outros pertences, na verdade, minha bagagem não passava de algumas peças de roupas que Ana, uma antiga amiga de infância, havia me emprestado, já que eu não havia conseguido resgatar nada do meu antigo apartamento na Califórnia. Eu estava sendo expulsa do apartamento onde morava de favor nos últimos três meses. Aquela não era a situação mais humilhante que eu já havia passado, se considerarmos tudo que eu vinha enfrentando nos últimos meses, mas com certeza era a mais dolorosa. Me casar com Jorge, abandoná-lo e perder meu apartamento não tinha me afetado tanto, já que eu não gostava dele e nem muito do apartamento. Mas aquela situação era diferente, Carla - minha melhor amiga, a qual tinha me cedido um teto logo após eu abandonar meu casamento - estava me mandando embora, a minha melhor amiga, a pessoa para quem eu confiaria a minha vida de olhos fechados, estava me expulsando do seu apartamento e provavelmente da sua vida. Senti lágrimas se formaram nos meus olhos quando fechei a pequena mala e dei uma última olhada no quarto que, meses atrás, tinha sido me emprestado com toda a hospitalidade de Carla. Eu não saberia dizer se estava chorando por estar indo embora ou por não ter aonde ir depois de sair daquele quarto. Estava sozinha novamente, sem onde ir, sem a quem recorrer.
Aquele não era um sentimento novo para mim, mas mesmo assim era doloroso demais para suportar sozinha, foi por este motivo que eu não falei nada quando Pedro entrou no quarto e colocou seus braços em volta do meu corpo.


- Shiuu,não precisa chorar querida, eu estou aqui – ele me puxou para mais perto do seu corpo e eu pude sentir seu coração acelerado – Eu estou aqui com você.
Pedro era a única pessoa que sabia que eu estava deixando o apartamento da Carla, já que ela havia me expulsado na frente dele. Eu queria que continuasse assim, não queria que mais ninguém soubesse, pena era a última coisa que eu queria naquele momento.
- Obrigado. – murmurei.

Encostei minha cabeça no seu peito e pude sentir seu perfume invadir minhas narinas, fazendo meu coração acelerar e minhas pernas ficarem fracas. Eu o amava mais do que qualquer pessoa poderia imaginar, amava-o mais que a mim mesma, mais do que antigamente. Não sei se poderia explicar meu sentimento sem ser clichê, mas ele era capaz de preencher todos os meus pensamentos, de me fazer sentir quente no inverno frio do Canadá, de me fazer sentir viva.

Viva. Nesses últimos meses, desde que voltei dos Estados Unidos, eu não consigo parar de pensar na besteira que fiz ao deixá-lo no dia do nosso casamento, em como minha vida teria sido diferente se eu tivesse me casado com Pedro, com quem sempre foi o amor da minha vida, ao invés de casar com Jorge, quem eu nunca amei.
Sinto meu coração ficar apertado com todo o arrependimento e com todo culpa que sinto por tê-lo feito sofrer, como eu pude ter sido tão cruel para machucar quem eu mais amava?
Respiro mais um pouco do seu perfume, eu preciso senti-lo perto de mim, preciso dele para continuar inteira, continuar respirando, continuar vivendo.


xx